Mal de encante em rota de prazer

No teu corpo coexistem humano, anjo e animal
no teu corpo tudo é meio sobrenatural,
morbidez e dicotomia
entre pureza e heresia.

O teu humano em mim se faz corpo e tabu,
revela-me os sonhos e me destrói segredos;
teu lado anjo me protege e pune,
faz-me luz em treva e me faísca e abruma;
teu animal me come e assustador me assusta,
faz-me doce sabor e me transmuta em dor.

No teu corpo coexistem humano, anjo e animal
no teu corpo tudo é meio sobrenatural,
morbidez e dicotomia
entre pureza e heresia.

O teu humano em mim só me referve os nervos,
escraviza-me sem dono e suga meus temperos;
teu lado anjo me venera e açoita,
descobre-me afável e me divulga nua;
teu animal me cria e me recorta em partes
destroça-me intensa e me ignora o sal.

No teu corpo coexistem humano, anjo e animal
no teu corpo tudo é meio sobrenatural,
morbidez e dicotomia
entre pureza e heresia.

O teu humano em mim perpetra seus feitiços,
abrolha-me em beleza e mórbidos estados;
teu lado anjo me seduz e enleia,
deita-me em pecado e me sufoca em nuvem;
teu animal me faz e desfaz em guerra e captura,
desnuda-me a nudez em mitos de prazer.

No teu corpo coexistem humano, anjo e animal
no teu corpo tudo é meio sobrenatural,
morbidez e dicotomia
entre pureza e heresia.

O teu humano em mim provoca e me alucina,
abona-me aos entes e feras de outros mundos;
teu lado anjo me refaz em narrativa e mito,
faz-me simbólica ao som do paraíso;
teu animal me solta da toba o leite branco
e me sufoca ao fluxo desse humor orgânico

No teu corpo coexistem humano, anjo e animal
no teu corpo tudo é meio sobrenatural,
morbidez e dicotomia
entre pureza e heresia.

Sílvia Mota.
Cabo Frio, 5 de maio de 2009 – 18:46hs.

Nenhum comentário: