impossível deixar de te procurar em mim


busco-te nos componentes do meu sistema,
nas harmonias e vias da minha anatomia,
nos adereços e endereços da minha beleza

busco-te nas veias do meu coração,
nas tendências fetais e atuais dos meus anseios,
nos roubos e arroubos das minhas quimeras

busco-te nas vísceras do meu pranto,
nas entranhas estranhas do meu paraíso,
nos rogos e fogos das minhas orações

busco-te nas secreções do meu labirinto,
nos hormônios binômios dos meus desejos,
na produção e liberação das minhas indigências

busco-te nos excrementos do meu pensamento,
nos cantos encantos das minhas ilusões,
nas ações e proscrições dos meus venenos

busco-te nas linfas e tecidos da minha perdição,
nos ruídos fluídos do meu pranto,
nas bisonhas e medonhas vias do meu coração

busco-te nos estímulos dos meus músculos,
nos raptos inaptos dos meus prazeres,
nos deslizamentos cruentos das minhas contradições

busco-te nas captações dos meus neurônios,
nas manhas barganhas dos meus desafios,
nas repulsões e compreensões dos meus impulsos

busco-te na concupiscência das minhas ereções,
nas meninas meninos das minhas fantasias,
nos vampiros e suspiros dos meus temores

busco-te nos ares das minhas inalações
nas correntes assentes da minha pornografia,
nos casticismos e cinismos dos meus pretextos

busco-te nas cartilagens dos meus ossos,
nos rígidos e hígidos arcabouços da minha essência,
nas sustentações e proteções dos meus caminhos

busco-te nas terminações dos meus sentidos,
nas ordens e desordens dos meus estímulos,
nos pulcros sepulcros dos meus significados.

busco-te nas interrelações do meu corpo,
nas dependências e pendências da minh'alma,
nos bruxedos e brinquedos dos meus sonhos

busco-te, enfim, em cada uma das minhas veleidades,
nos êxtases e ênfases da minha inspiração,
nos domínios e fascínios de todos os meus ais.

encontro-te em mim,
mas não me encontro em ti...

Sílvia Mota.
Rio de Janeiro, 21 de março de 2009 – 19:39hs.

Nenhum comentário: