perder-te

Perder-te é como perder a poesia
do meu pensamento
e a pintura que sai do fundo da minh'alma.
É como perder a vida interior
descoberta, sem querer, no teu sorriso.
É estuprar o próprio eu
no desespero da tua ausência
e amassar com raiva do destino
as camisolas coloridas,
escolhidas carinhosamente
para agradar tuas noites.

Perder-te é olhar meu corpo solto na cama
e masturbar o meu pensar, lentamente,
sabendo que não será possível esquecer
a vibração intensa que descobrimos juntos,
após eternidades de procura.
É ter esta certeza ruím
de que meu céu não será mais tão azul
nessa primavera que me trouxe
e ao mesmo tempo te me roubou.
É saber que os passarinhos fugirão de mim
e as flores me negarão seu perfume.

Perder-te é não querer, por instantes,
sentir essa vontade incontida de viver,
mas é também ser forte para olhar o chão,
lá embaixo e só ter coragem
de me jogar para a caneta e o papel,
despedaçando-me em palavras.

Saber perder teu amor é a prova de coragem
mais intensa que passei na vida.
É ouvir essa música tantas vezes cantada
com tua voz colada ao meu ouvido,
entrando na minha alma.
É ouvir essa canção
que me trata com o verdadeiro
amor e compreensão
que conseguiste acrescentar
aos meus sentidos.
É a sensação angustiante
de querer consertar os erros
nessa hora de solidão
e, numa impotência de angústia indescrita,
procurar sozinha na minha cama
o calor do teu abraço escondido
no amarfanhado destes lençóis cor-de-rosa,
enrolados no meu corpo
e ainda lambuzados de orgasmos incontidos.

Saber perder teu amor,
é deixar meu pensamento gritar
na escuridão infinita desta noite,
a saudade de ficar por um instante eterno,
simplesmente,
NUA NOS TEUS BRAÇOS!

Sílvia Mota.
Rio de Janeiro, 1987 - 20:30hs (início)/20:50hs (término).

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