Tango

Ensina-me a dançar o tango

para o qual me convidas

ao flainar dos versos teus.

Tenho alma teatro que obsecra

cumpra-se a fantasia.

Proibo-te imaginar-me jovem.
Quero ser desejada assim, como sou
- Mulher. Madura. Sensual.
Fêmea degustável
a refinado paladar.

Salão em negritude...
Acendem-se as luzes...
A enfeitar-me o corpo,
ostento indumentária negra
acertada às ancas.
Rasgo à esquerda
desvenda ligas rendadas
e os bordados que avivam
as transparências pelos braços,
faiscam aos holofotes...

Sapatos altos
cativos ao tornozelo
alçam-me ao paraíso do som,
num esvoaçante ritmo
de borboleta e fera.
Violino. Piano. Guitarra.
Flauta e bandoneón.
Eclipse em harmonia.
Eixo correto, entro sozinha
e pelo outro lado chegas.

Com mãos distendidas
ao drama musical
imploras meu corpo.
Espero que te aproximes
como nunca vi igual -
esbelto, teso e sedutor...
Mãos experientes
arrepiam-me a cintura
e olhar de charme vampiresco
invoca o demônio de mim...

Colados...
Joelhos acochados ao desejo,
pés unidos na vertical...
Corpos que absorvem o som.
Intenso. Dramático. Sensual.
Ombros esquerdos
conduzem-nos aflitos
pelo apocalipse das emoções
e o sobejo do corpo inclina-se
ao paraíso dos sonhos.

Bela efígie sem passado,
entrego-te seios e boca
sedentos de agonia
ao contato do teu peito,
enquanto mão em fogo
adornada de brilhantes
segura-te os cabelos
e resvala ao ombro,
não sem antes
energizar-te o pescoço.

Pernas torneadas,
ao tempo preservadas,
giram em sintonia
ao movimento da cintura,
que evolui sestrosa
à ponta dos teus dedos...
Esgueiram-se, encaixam-se
por entre as tuas,
que desferem golpe certeiro
na minha sedução...

Mão espalmada,
esquadrinhas minha coxa
ao arrepio do coração.
Magnetizas-me
ao improviso.
Pernas ao tango
falam e provocam
burburinho na plateia,
mas teu olhar cioso
rouba-me todos os olhares.

Troncos tensos,
pernas em liberdade...
Felinos caminhamos,
flutuantes e sensuais...
Teu braço exibe domínio
e tortura-me o dorso,
esgueirando-se delinquente
pelo decote profundo,
que alcança as covinhas
insculpidas acima do bumbum...

À incauta dramaticidade

do exótico momento
entrego-me de costas,
com os braços erguidos...
Ao pescoço, sinto o hálito quente
do reprimido beijo desejado
e o volume do teu sexo
perfura-me o pensamento,
rasga-me em vaidade
e faz-me fêmea-bicho à contradança.

Arrasto-me lúbrica ao chão,

deslizo quase aos teus pés,

mas aceito o chamado ardoroso

dos teus braços.

Apertas-me em dor

e devolvo-te suspiro incontido

à oscilação dos olhos,

que descem para admirar

tua mão deslizando, por querer,

pelas curvas dos meus seios.

Luvas de renda negra

fazem-me dama e cortesã

e boca vermelha esfuziante,

uma vadia airosa e nobre...

Mantenho-me à direita

em rígida postura.

Provocas-me ao drama,

enlaço-te predadora

e captas-me feiticeiro

nas algemas do pecado.

Entrego-me. Giras... giro...

Jogas-me violento para trás,

mas achego-me de um só golpe,

até que teu rosto não fuja do meu...

O suor dos corpos fluem

ao ritmo voluptuoso dos sonhos

e nas faces enfeitiçadas

expressamos a cor do sofrimento

que antecede ao orgasmo...

Tortura dançante, olhos fixos...

Não me podes beijar... não aqui...

não faz parte deste show...

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz

Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 18/08/2011